A artista plástica Karem Poletto Jacobs retorna ao ciclo de exposições com sua nova mostra: IN-VISÍVEL. Tive o prazer de escrever o texto crítico da exposição, que está em cartaz no TUBUNA, em Bento Gonçalves/RS.
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O jogo entre a interioridade e a
exterioridade é uma constante na história humana. Do relevo epidérmico do corpo
à dinâmica de suas reações químicas – diálogo entre o visível e o invisível –
há uma história a ser contada. Mais: há uma fonte de indagações sobre o enigma
do homem.
Na exposição In-visível, Karem
Jacobs aceita o desafio de perscrutar aspectos do jogo instigante entre o
interno e o externo. Por esta via, a artista revigora seu trabalho em busca de
novas visualidades, novos arranjos formais, novas texturas e composições. A
atitude que marca as obras apresentadas é incisiva, perfurante, violadora. A
minúcia, o mínimo e o recôndito protagonizam o gesto criativo da artista.
Se, outrora, o corpo humano aparecia em
suas criações conservando uma estrutura figurativista, ainda que transfigurada
pelo realismo orgânico próprio de sua linguagem, agora ele está presente como
reminiscência, lembrança vaga. A corporalidade exterior de suas produções
passadas dá lugar ao teatro fisiológico de células, tecidos, vísceras... É
ainda o corpo, porém, agora, a busca da artista é por algo mais sutil e
silencioso.
A curiosidade humana acerca do que está
dentro – o interior das coisas, os espaços íntimos – movimenta profundas
energias tanto físicas quanto psíquicas. Em seu livro A Terra e os Devaneios
do Repouso, Bachelard investiga as imagens da intimidade mediante um
empenho de grande beleza diante do “mistério encerrado no detalhe das coisas.”
Estão ali intuições refinadas sobre a caverna, a casa, o ventre, a raiz...
mundos impregnados de interioridade.
Na esteira das intuições do citado filósofo, Karem Jacobs lança-se no rio sanguíneo do corpo, faz sua peregrinação pela geografia das células, vaga pelo labirinto das vísceras. Atenta aos detalhes, aos ritos movediços da fisiologia humana, a artista vislumbra recomeços, reconexões, ressurgimentos. Não se trata de solipsismo, de um monólogo ou de um exercício pessoal. Definitivamente, é generosa a safra de obras desta artista que, ao olhar para dentro, nos convida à reflexão sobre as várias singularidades individuais, as quais só atingem seu sentido pleno quando projetadas na exuberância da espécie.
Clóvis Da Rolt
Poeta e professor universitário