"Universo", publicação de 2014, é um trabalho experimental do ponto de vista formal. Agônico, instável e errante, feito um equilibrista na corda bamba, o livro propõe ao leitor uma nova maneira de encarar o verso, sua estrutura e sua dinâmica de leitura. São quarenta páginas em que um único verso, ao centro, se desdobra num ritmo de leitura que vai desfiando o olhar e as interpretações do leitor.
O livro funciona como um modo de expiação das questões internas do autor, especialmente no que se refere à sua mudança da serra para o pampa gaúcho, de Bento Gonçalves para Jaguarão. Na linha persistente que o verso desenha ao centro das páginas, no seu grito existencial, está anunciado o horizonte do pampa.
"Me delicio com a leitura deste belo texto. A produção gráfica da obra, que consegue a façanha de misturar simplicidade, elegância e criatividade, é do próprio artista. Como se não bastasse, dialoga perfeitamente com o poema da obra. Sim, o poema! No singular mesmo! Fui surpreendido por um livro de um único poema, composto igualmente por um único verso. Álvaro de Campos que me perdoe, mas este é o verdadeiro poema em linha reta. Percorre as 40 páginas um único verso, como se fosse uma espinha dorsal a moldar com suas palavras o branco das páginas em uma infinidade de sentidos. Do “signo entalhado (...) na insônia da linguagem” ao “guardião das coisas que não têm nome”, do “alfabeto do barro” à “cápsula do agora”, o universo inteiro cabe neste uni.verso de Clóvis. Há quem pense que o bom poema é aquele que, em sua leitura, tem determinados sentidos atribuídos pelo leitor. Mas há os que acreditam que o bom poema é aquele que dá sentido ao seu leitor. Eu fico com os últimos. Agradeço ao Clóvis por compartilhar um pouco desse seu universo, que nos inquieta e nos intriga ao passo que nos lê e nos significa. Deixo aqui meu convite para que todos mergulhem nas páginas a serem moldadas por essa coluna inquieta e errante."
Gustavo Henrique Rückert, poeta e professor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa)